Spike Lee segue fazendo os afrontes certos

Arte feita por Naturel

Essa arte postada no Instagram do Spike Lee é na minha opinião, das mais importantes que já vi recentemente no que diz respeito ao mercado de entretenimento. Na imagem vemos o personagem Mookie, interpretado pelo próprio, do filme Faça a Coisa Certa, de 1989, pulando como Jordan para pegar uma estatueta do Oscar. Enfim, pegando aquilo que lhe é de direito, não de hoje.

O diretor venceu o prêmio de melhor roteiro adaptado em uma noite em que passou mensagens sutis, como a roupa que usou até seu discurso para receber o troféu de forma mais direta: o terno roxo em homenagem ao cantor Prince, que ele chama de irmão e que foi o responsável pela trilha sonora do filme Garota 6, seus Jordans estilizados, marca que homenageia o ex-jogador de basquete Michael Jordan, que ajudou no financiamento do filme Malcom X de 1992 e o discurso direto e reto contando toda uma história que não é novidade, mas que nos tempos de hoje ainda precisa ser reforçada para aqueles que se esforçam para não entender.

 

Me pareceu que Spike Lee quis expor a todo instante o quão hipócrita pode ser uma premiação como o Oscar, que construiu uma imagem de triunfo dos grandes artistas do cinema, mas que ao mesmo tempo se faz de desentendida em diversos momentos da história com o que acontece ao seu redor. Um diretor como ele construir uma carreira tão sólida com grandes trabalhos, só ganhar uma estatueta em 2019… Mas em contra partida também quis mostrar o quão rica é a sua carreira e obra, apesar da academia fechar os olhos e fingir que não viu seus filmes.

Por conta disso é sim necessário que o próprio diretor tenha a noção de todo o legado que construiu e fazer as devidas menções, seja na cor do seu terno ou nos anéis em suas mãos, na noite em que finalmente ele pôde de certa forma levar Mookie e toda a mensagem da sua carreira como diretor para os holofotes, através de Infiltrado na Klan, história real de um policial negro que trabalhou com a ajuda de seu amigo judeu como infiltrado no partido Ku Klux Klan, aquele mesmo que teve um de seus líderes apoiando o presidente do Brasil no ano passado (#elenão).

Em uma premiação que recentemente deixou claro que suas contradições são irônias de mau gosto, e não coincidências:

É preciso de fato expor as opiniões em cima do que é contraditório de forma proposital e virar as costas para aquilo que acredita ser injusto (Spike Lee virou as costas quando viu que Green Book venceu na categoria Melhor Filme, por conta do filme ter sido acusado de não contar a história do pianista Don Shirley como ela realmente aconteceu, nem sua família foi consultada como deveria para a produção do mesmo).

E ver um discurso aonde é citada toda uma luta real para que um trabalho seja colocado nos cinemas é algo muito bonito de se ver, Spyke Lee falou que não ia se preocupar em ser rápido no seu discurso, falou sobre como muitas pessoas precisaram se mobilizar para que sua carreira seguisse em frente e pediu atenção pra toda uma nação votar contra o ódio nas próximas eleições. E é bom demais ver um discurso politizado distribuindo as devidas carapuças:

Enfim, vi aquela arte no Instagram do Spyke Lee e ela carrega muitos significados, e eles são maiores que o Oscar.

Leia abaixo o discurso de Spike Lee no Oscar:

Hoje é 24 de fevereiro, o mês mais curto do ano. Também é o mês do ano da história negra. 1619… Há 400 anos nós fomos roubados da África e trazidos para a Virginia, escravizados. A minha avó, que viveu até 100 anos de idade, apesar de sua mãe ter sido escrava, conseguiu se formar. Ela viveu anos com seu seguro social, e conseguiu me levar para a universidade NYU. Diante do mundo, eu gostaria de reverenciar os ancestrais que construíram esse país, e também os que sofreram genocídios. Os ancestrais que vão ajudar a voltarmos a ganhar nossa humanidade. As eleições de 2020 estão chegando, vamos pensar nisso. Vamos nos mobilizar, estar do lado certo da história. É uma escolha moral. Do amor sobre ódio. Vamos fazer a coisa certa

 

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