A Pluralidade do aranhaverso e o pichador que levou um Oscar

Vocês já devem estar cansados de saber ou ao menos ter ouvido falar à respeito do quanto a mais nova animação longa-metragem do nosso amigo teioso é inovadora, tendo em vista os diversos elogios que a mídia especializada vem tecendo sobre o filme desde o seu lançamento. Bom, cá estou para corroborar com tudo isso! além da técnica de animação com menos quadros entre os keyframes para nos passar a impressão em determinados momentos de estarmos vendo uma animação em 2D, a inserção dos pontos de Ben-Day, quadros de pensamentos e onomatopeias para criar a sensação de estar vendo um “gibi animado”. Mais destes aspectos vocês podem conferir neste vídeozinho maroto abaixo:

 

Acredito eu que o grande atrativo e causa do sucesso, do homem-aranha seja nas páginas dos gibis da década de 60, ou nos filmes de Sam Raimi em meados dos anos 2000, seja a facilidade de se identificar. Mas não demorou muito para alguém perceber que essa identificação só era 100% possível para todos (Homem, mulher, negro, branco, rico, pobre […] ) enquanto o herói estava usando máscara. Mas em uma sociedade onde todos tem voz ativa, isso não é mais o suficiente, as pessoas querem se enxergar na identidade debaixo da máscara também. O primeiro produtor de conteúdo para o Homem-Aranha de dentro da Marvel a ter essa “sacada” foi Brian Michael Bendis que nos apresentanu Milo Morales nas páginas de “Ultimate Fallout #4”  em Agosto de 2005, incentivado pela ostensiva campanha de Donald Glover !!! Que almejou estrelar o longa: “O Espetacular Homem-aranha” e ostentou o modelito do aracnídeo enquanto ainda atuava no seriado community. Bendis diz ter tido inspirações também na figura de Brack Obama.

Mas não foi por acaso que escrevi antes que Bendis foi o primeiro a ter essa ideia, Phil Lord e todos os outros envolvidos no projeto conseguiram expandir e muito o leque de diversidade  em Homem-Aranha no Aranhaverso e por consequência fez com que uma massa ainda maior de pessoas se identifica-se e pudesse ter mais afinidade com o herói. Veja só todo o público nerd mediano que já se identifica com o Homem-Aranha (Peter Parker) desde de sua gênese nos quadrinhos:

Uma mulher independente tão forte e inteligente quanto os demais personagens masculinos para representar todas as minas que fazem parte deste universo por mais sexistas que ele ainda possa ser infelizmente, mas são personagens como esta e tantas outras que vem ganhando mais evidência atualmente e que ajudam a combater essa toxicidade.

Peni Parker que além de representar os fãs asiáticos também representa principalmente os Otakus. Uma galera que é relegada mesmo pela cultura nerd que já é considerada de nicho:

Peter Porker que além de atrair aquele pessoal que curte um bom e velho cartoon, pode servir para representar a galera da comunidade Furry, quem sabe ele não pode até ser uma Fersona de Peter Parker?

Não mencionei alguns detalhes sobre a técnica de animação em si, pois era impossível falar de certos aspectos dela sem mencionar o que pra mim é a cereja do bolo deste filme, o seu protagonista: Mile Morales.

Muito da simpatia que tenho por ele se dá talvez pelo motivo que faço parte do recorte da população que se identifica com este homem-aranha quando este está sem a máscara e como ele é o protagonista é normal que vejamos pelo menos alguns aspectos da realidade do filme pela sua perspectiva é por isso que existe o efeito Neon em algumas cenas principalmente nas noturnas que é muito parecido com os utilizados em clipes de Hip-Hop atuais em especial os norte-americanos. É também por isso que o longa integra o grafite a sua identidade visual usando respingos de tinta na tela:

 

 

 

 

Diferente da HQ aqui Miles é pichador, ou seja, tem uma “identidade secreta” que antecede a picada da aranha. Por um lado existe o garoto que tem de ir para a escola dos ricos e fazer de tudo para acompanhar este ritmo, por outro existe um artista de espírito livre que só quer se expressar a qualquer custo. Muitos pichadores (se não todos) tem que adotar essa “identidade secreta”, mas por quê? Talvez por que a pichação seja agressiva, não pede licença, não fala com morador, não quer diálogos, diferente do grafite o picho simplesmente é! Existem várias formas de arte envelhecendo no museu, onde poucas pessoas terão acesso, o picho e o grafite não, ambos expostos em lugares públicos onde TODOS podem ver e se sentir inclusos que é o mesmo que esta animação faz. O pixo e o grafite assim como Homem-aranha no Aranhaverso são (uma das poucas) formas de democratizar a arte e de dar visibilidade a quem muitas vezes é invisível.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sobre Alan Jesus

Gerente de TI, professor de inglês aos finais de semana, pseudo-crítico nas horas vagas e sempre faz valer o provérbio em black english: "Get your money black man". Sempre teimando com céticos se magia não existe para que serviria uma câmera?
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