Pantera Negra sem sombra de dúvidas um dos maiores e mais representativos filme de Super-Herói de todos os tempos.
Marcando-se como o primeiro titulo solo do MCU que trás além do protagonismo de um personagem negro um elenco predominante negro, o filme trás pras telonas a representação da cultura africana de uma forma sutil e bem apresentada, de forma que o público geral entenda e respeite essa cultura. Além de fugir totalmente da famigerada Fórmula Marvel que vem sendo trazida desde o inicio do MCU.
Vamos tentar focar mais nas questões sócio-culturais e os sentimentais que o filme trás. Pra ficar mais ligado no brilhante trabalho do diretor Ryan Coogler com especificações mais técnicas sobre o filme, indicamos o trabalho do nosso parceiro PH Santos, que está muito bom. Sobre a trilha do filme, fizemos uma matéria mais específica sobre “Black Panther: The Album” que saiu antes do filme.
O filme nos apresenta ao novo Rei de Wakanda T’Challa (Chadwick Boseman). Depois dos acontecimentos em Guerra Civil, a morte do Rei T’Chacka pelo ataque orquestrado pelo Barão Zemo, diferente de sua morte nos quadrinhos que é pelas ‘garras’ de um dos vilões do filme Ulysses “Garra Sônica” Klaw. O filme consegue traçar um paralelo que faz dessa uma nova origem muito bem adapta para esse universo.
Então T’Challa assume oficialmente o trono e o manto de Pantera Negra, como rei e guardião de Wakanda. A cidade africana fictícia super-desenvolvida tecnologicamente que se faz outra protagonista do filme, dividindo sua cultura, tecnologia, beleza e importância politica com o protagonismo do próprio rei de Wakanda.
Por isso o cumprimento Wakandiano fica… “WAKANDA FOREVA !!!”
Com fortes inspirações da nova origem do Pantera Negra escrita por Reginald Hudlin e dos impasses políticos de “Wakanda uma Nação Sob Nossos Pés” escrita por Ta-nehisi Coates nos apresentam de verdade ao Pantera Negra do MCU.

O começo da ascensão do jovem Rei T’Challa buscando ser um Rei a altura de seu pai, e seguir o seu legado. De forma sutil Wakanda é apresentada, suas crenças, costumes e isolamento do mundo exterior formando uma linha tênue entre ficção e realidade onde nos perguntamos:
“E se Wakanda existisse de fato ?”
Trazendo críticas sociais fortes porém sutis, o filme trabalha bem esse paralelo realidade e ficção, sabendo também colocar lutas bem coreografadas nos momentos certos, sem forçar uma porradaria gratuita pra ocupar/entreter os olhos do espectador.

O trabalho de interpretação de cada ator no filme é sensacional. Cada ator fez o seu papel de forma impecável, como por exemplo o trabalho com o sotaque bem puxado dos atores que fizeram wakandianos pra manter as raízes africanas até na fala dos personagens.

As mulheres de Wakanda também dão um show de representatividade e emponderamento, o que não cabe muito a mim falar mas não pode ser deixado de lado.
Começando por Shuri (Letitia Wright) uma super-inteligente genia da computação que cria as armas, os apetrechos, inclusive o novo traje tecnológico do Pantera ela também por acaso é irmã do rei T’challa, e trás diversos momentos de alívio cômico e uma relação de irmandade muito divertida com o personagem de Chadwick Boseman.
A personagem Nakia vivida pela belíssima Lupitta Nyongo é uma agente e ativista que trabalha fora de Wakanda fazendo missões pra ajudar o resto do povo da África que ainda sofre com exploradores estrangeiros. Ela também é o par romântico do nosso Rei com voz ativa e muitas vezes discordando da forma de T’Challa governar, buscando ajudar as pessoas além da fronteira de Wakanda.
Okoie (Danai Gurira) é uma das minhas personagens favoritas do filme, líder das forças especiais que fazem a guarda Real de Wakanda as Dora Milaj. Ela mostra uma personagem que não é só uma soldada, mas que faz o que faz por vontade própria e tem sua voz ativa como personagem. Ela faz o que deve ser feito e faz do jeito dela, como ela acredita ser certo com uma imponência que mostra que ela não é só uma serva do rei, e sim alguém que faz o que faz por acreditar ser certo.
[SPOILERS Á PARTIR DAQUI]
O ‘primeiro’ vilão do filme Ulisses Klaw (Andy Serkis) o único forasteiro que já havia visitado Wakanda e sobreviveu tem como motivação sua motivação como todo mercenário apenas o dinheiro, e lucrar com o Vibranium. O começo da trama gira em torno de capturar esse vilão, que é fácil confundido com vilão principal da trama por também ser o vilão principal da origem do Pantera nos quadrinhos.
O segundo “vilão” Erick Killmonger Stevens (Michael B. Jordan) no meu ponto de vista não é bem um vilão e vou explicar o porque. Ele nos é apresentado co-agindo com Klaw no roubo de um artefato de vibranium, que logo nos é revelado em um Plot-Twist sensacional que tudo não passava de um plano, para matar Klaw e levar o corpo para Wakanda, para usar como moeda de troca pra ser aceito pelo seu povo. SEU POVO ? como assim seu povo ? Em outro Plot Twist sensacional Killmonger nos é apresentado como primo de T’Challa e um dos herdeiros de sucessão ao trono, que na verdade é seu plano desde o inicio.
A motivação dele é simples e radical, nos lembrando de outro ícone da Marvel o Magneto que também não é considerado vilão por muitos, inclusive pelo próprio Stan Lee.
Você já imaginou se no lugar dos Europeus os negros tivessem os recursos bélicos que foram usados pra escravizar e explorar todo um continente e se tornar uma ‘raça’ dominadora em todo o mundo ?
Com a existência de Wakanda isso se torna possível, e essa é a motivação do nosso “vilão”.
Por que o resto dos nossos irmãos ao redor do mundo sofrem, enquanto Wakanda segue linda e prospera separada do mundo ?
Com esses questionamentos é fácil você entender e sentir empatia pelos motivos de “Killmonger“. Pois Killmonger quer de fato se tornar o Rei de Wakanda para usar os recursos tecnológicos ilimitados para inverter esses papéis que foram impostos pela história.

O filme nos revela que seu “Vilão” é na verdade uma vítima das circunstâncias, e que o vilão mesmo na verdade é o racismo e todos os pontos que levaram Killmonger ao pensamento radical que ele chegou, toda crueldade e a forma que os “irmãos” dele eram tratados ao redor do mundo, sendo um garoto preto, pobre e órfão, sabendo pelas histórias de seu pai que em algum lugar no mundo existe um lugar, que é o lugar qual ele pertence, onde os pretos vivem bem e tem o poder pra fazer com que o resto dos pretos do mundo vivam também, além “de possuir o por do sol mais bonito no mundo”. Quase aquela Thugz Mansion que o Tupac cantou, só que numa escala muito maior rs’
Um filme onde o Herói aprende com quem é apresentado como “Vilão”, mudando sua forma de pensar e confronta o próprio pai que admirou e tentou ser a vida toda, com a frase:
“Porque você não trouxe o menino ?” – Referindo-se a Killmonger que foi deixado porque nos EUA pra viver como órfão após a morte do seu Pai.
Que nos leva a cena que mais me comoveu no filme, após a última batalha que o Pantera vence e oferece a Killmonger cura-lo para que ele não morra, e ele responde algo tipo:
“Me salvar pra que ? Pra viver o resto da vida preso ? Só me joga no oceano e me enterra junto com meus ancestrais, que saltaram dos navios, sabendo que a escravidão era pior do que a morte!”
Mostrando pro público de uma forma sutil que os erros do passado mesmo que não tenhamos vívido, tem reflexo direto nas consequências do presente, e cabe a quem vive no presente aceitar esses erros e fazer essa mudança acontecer no futuro.
Assista nosso vídeo de crítica de Pantera Negra no Canal:
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