Colin em Preto e Branco – Jogue o jogo da forma BRANCA | Dica da Semana

Hoje é sexta-feira como ainda estamos em períodos de cuidado, alguns ainda preferem ficar em casa final de semana e assistir algo, a dica de hoje é a série Colin em Preto e Branco original Netflix.

Colin em Preto e Branco conta nos seus 6 episódios um pouco da infância do quarterback Colin Kaepernick.

Narrada pelo mesmo, ex jogador do São Francisco 49ers, que em 2016 foi praticamente “forçado a se retirar” da NFL (principal liga de Futebol Americano) por iniciar uma onda de protestos na liga por conta da brutalidade principalmente policial contra pessoas/vidas negras nos Estados Unidos, se ajoelhando durante os momentos de hino nacional dos EUA nas partidas se negando a seguir o protocolo padrão.

Desde então Keapernick está fora da liga, e continua sua luta, ativismo e inflûencia fora dos campos de Futebol Americano, esse projeto é um pouco disso.

Colin em Preto e Branco

Kaepernick foi uma criança preta/miscigenada adotada por dois pais brancos de classe média. Automaticamente ele não cresceu “diretamente conectado” com a sua cultura. Colin em Preto e Branco mostra um pouco desses momentos na sua infância/adolescência, seus primeiros contatos com a cultura e a comunidade negra, quando ele começou a entender um pouco da sua identidade dentro da sociedade, dos esportes e também da sua casa, que não importava o quanto seus pais adotivos o amavam, o racismo ia existir até lá, ou nos lugares “classe média” que ele frequentava por conta dessa criação.

Além disso existe uma jornada de construção do personagem que esta começando a enxergar para além das injustiças da sociedada para com pessoas pretas a beleza de cada um dos nossos e principalmente nele mesmo, uma beleza que a sociedade insiste até hoje em “esconder” dos seus “holofotes”.

Jogue o Jogo da Forma Branca | “Representatividade” de forma Didática

A série trás muitas informações de forma didática, misturadas com a trama principal. Narradas pelo Kaepernick adulto as imagens dividem o espaço com as trama intercalando e explicando de forma didática alguns dos “atos racistas” vividos pelos jovem Colin na série e também vividos por muitos de nós cotidianamente, usando pra explicar isso algumas simulações de momentos cotidianos e momentos históricos e emblematicos, tanto do esporte como da História como um todo.

Existe um ditado famoso no Baseball (outro esporte que Kaepernick poderia se tornar profissional) “Jogue o jogo da forma Certa” ele faz um paralelo com o ex-jogador de Baseball Romare Bearden, também um homem miscigenado que em 1930 seria o primeiro jogador negro em uma liga principal de Baseball, mas recusou um contrato com o time Philadelphia Athletics porque ele teria que “se passar por branco” e descobriu que “Jogue o jogo da forma Certa” na real era “Jogue o jogo da forma Branca”.

Existem formas que esse sistema racista espera que nós negros ajamos quando “acendemos” de alguma forma, esses são alguns dos poucos exemplos dos quais o sistema faz seus movimentos desde antes de 1930. Hoje por incrível que pareça não é diferente, a sociedade muda, mas o sistema se adapta. Hoje pessoas podem “jogar o jogo da forma certa” protestando contra o racismo, mas o sistema estipula um limite, é só observar algumas pessoas em ascenção, os seus posicionamentos e essa adaptação durante a jornada. E a grande diferença principalmente de alcance de quem de fato não joga por essas regras.

Romare Bearden se encontrou na Arte, dentre diversas formas de expressão as artes visuais fizeram dele uma referência artistica do século XX. Por não “vender sua alma” ele encontrou além de uma outra paixão, uma forma de inflûenciar outras pessoas pretas pelo mundo.

Allen Iverson, ex-jogador da NBA (Liga Nacional de Basquete Americano) armador dos 76ears também é citado como uma referência logo no primeiro episódio, no ínicio dos anos 2000 ele não teve medo de ser quem ele era e mudou a liga pra sempre de uma forma até mais inflûente que o próprio Michael Jordan. Ele não seguia as regras, que regras? as que foram criadas pra ele, porquê a liga considerava AI “gueto demais” ou “negro demais”. Além de moldar um novo estilo de jogo e ser um dos melhores Armadores que já pisaram na NBA, ele foi o grande responsável por toda essa ligação do Hip-Hop com a liga que dura até os dias de hoje.

Esporte, Política, Brasil e Tiago Leifert

No Brasil a forma que enxergamos identidade racial varia muito de pessoa pra pessoa, existem diversos estudos sobre, mas a maioria deles concorda que na história do Brasil existiu um movimento forte para o apagamento dessa identidade, seja ela das pessoas pretas, ou dos povos originários. Pode parecer distante, mas os relatos de um Americano miscigenado criado por dois país brancos trás bastante identificação pra alguns de nós. Principalmente pela inflûencia das mídias e dos produtos de entretenimento Norte Americanos, que rodeiam o cotidiano de muitos brasileiros.

Então a série trás esses momentos que muitos de nós vão se identificar, e muito da jornada do jovem Colin pra encontrar essa identidade, pra além de uma pessoa preta e de um esportista da alta performance. Um “grande” apresentador (branco) da televisão brasileira, postou na época numa coluna da GQ:

Evento esportivo não é lugar de manifestação política.
[…]
A câmera e o microfone só estão apontados para aquele jogador por causa da camisa que ele está vestindo e de sua performance esportiva. Não acho justo ele hackear esse momento, pelo qual está sendo pago, para levar adiante causas pessoais. É para isso que existe a rede social: ali, o jogador faz o que quiser. No campo? Ele está para entreter e representar até mesmo os torcedores que votam e pensam diferente.

Tiago Liefert para GQ em 2018

Envelheceu mau essa sua opinião né Tiago? Triste que em 2022 ele ainda pense que “já que o negro está sendo pago pelo serviço contratado (não é mais um escravo), ele tem que fazer e ficar quieto” é só olhar as últimas polêmicas nas quais ele esteve envolvido. Em 2022 já por 4 anos fora da liga Kaepernick além de ainda estar em boa forma, A CÂMERA E O MICROFONE CONTINUAM APONTADAS PRA ELE porque as causas quais ele representou além de fazerem parte do esporte, ultrapassam essas barreiras.

Tudo que nós fazemos é política, principalmente pessoas que são consideradas “minorias” que são obrigadas a cotidianamente viver em um mundo que ainda é MUITO preconceituoso, sem se importar com o lugar social que elas ocupam.

A posição de privilégio do Tiago Leifert durante sua vida, talvez não tenha mostrado pra ele as realidades e dificuldades da vida real da maioria das pessoas do mundo. Pra além dos discursos prontos que ele recebia no Big Brother Brasil, ele aparentemente não procurou saber o que acontecia pra além do “cercadinho de ouro” que ele cresceu. Porém talvez através de respostas, dessas indiretas do Kaepernick ou diretas como as do Icáro Silva pessoas como ele possam entender um pouco melhor, ou elas são mal caráters sem volta mesmo…

Mais sobre Colin em Preto e Branco.

Procurando os trailers da série, e materiais pra divulgar esse artigo, encontrei o vídeo do Diego Silver. Um vídeo muito bom expondo os pontos dele, críticas e visões sobre a série. Então se você quer mais um pouco de conteúdo de Colin Em Preto e Branco, é sempre bom acompanhar a visão dos nossos sobre esses conteúdos:

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