Os melhores de 2018 a gente vê depois

Dezembro chegou e com ele veio junto aquela discussão que se repete ano após ano: qual foi o disco do ano no Rap Nacional? Eu acho bem legal esse debate e tudo mais, mas também vi que 2018 pode ser visto com outros olhos no que diz respeito a Hip-Hop e “Melhores do Ano”.

Foi um ano onde tivemos o desprazer (se você gosta mesmo de Rap, foi sim uma merda), de assistir a vitória de Bol##naro para a presidência, e um monte de gente achando que tava legítimado espalhar o ódio por aí, e foram meses percebendo quem foram os Rappers Reais no nosso país. Pois se um MC entra na cultura Hip-Hop e se cala diante certas situações, ele não assumiu de fato o compromisso, certo?

“Escolhi refletir o tempo e as situações em que me encontro. Para mim, isso é o meu dever, e neste momento crucial de nossas vidas, quando tudo é tão desesperador, quando tentamos apenas sobreviver a cada dia, não tem como não se envolver.”

– Nina Simone

Refletindo em cima dessa frase da Nina Simone, me peguei pensando em quais foram os álbuns que ouvi que retrataram da melhor forma essa época que vivemos hoje e que já é ensaiada a algum tempo atrás, sinceramente, de fato os mais citados entre os “Melhores do Ano” fazem este retrato, cada um a sua maneira, mas pouco vi alguém citar essa questão para argumentar sua opinião. E acontece também de pouco falarem sobre as músicas e os artistas que melhor retratou nossa situação e nos deram um prelúdio para o que está por vir.

“Se o bostanágua ganhar eu não vou perdoar nenhum rapper que não se posicionou contra quando isso aqui ficar uma merda até pra você que tá surfando numa ondinha boa agora. vou logo avisando. ta pensando q milico vai achar bonito suas historinha de bandido cosplay?”
Don L ta na lista dos melhores do ano, sem lançar disco.

Pois bem, acredito que debater qual foi o melhor disco de 2018 é importante para os rumos da cultura Hip-Hop e o seu papel na música brasileira, mas também acredito que é necessário deixar o debate mais amplo. Eu mesmo quase não vi nos blogs, páginas e grupos de Facebook os “analistas do Rap” falarem sobre o retrato que o Criolo fez com Boca de Lobo, e percebo que essa questão de hype impede o público de procurar ouvir outros artistas que não entram como preteridos para terem o disco do ano, mas que poderiam entrar na lista. Ouça 111 do Attica, e saiba porque o disco tem esse nome.

Enfim, da mesma forma que pouco discutiram sobre a música Primeiro de Abril do Marechal no final do efervescente 2016 de Sulicídio, esse ano a gente continua focando demais nos debates que tão aí pra qualquer um opinar, sem pensar muito em engrandecer o mesmo.

Acredito que os melhores de 2018 a gente vai saber com o passar dos próximos anos, quando fizermos a pergunta: o que aquele artista tava falando naquele ano que o Brasil elegeu…

 

Arte da capa: @grude.lambe

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