Antes de começar o artigo perse gostaria de deixar bem claro que embora todos esses temas estejam sim presentes na obra, não necessariamente tenham por intenção do autor o objetivo final que vou aplicar no artigo à seguir, afinal o autor é um oriental e eu estou fazendo a minha própria leitura enquanto ocidental e preto em diáspora e vou falar sobre a forma como absorvi tais temas, entenda até como uma releitura se quiser. Além de que uma vez que a obra é publicada ela passa a ser também do público e não apenas do autor. Isto posto vamos falar sobre Tenrou: Sirius The Jaeger !
Em um primeiro “tapa” mesmo que superficial em Sirius The Jaeger é muito fácil gostar do anime, ainda mais se você for um “otakinho”, afinal ele tem toda uma pompa de animezão clássico, clima mais soturno e adulto, aqueles no estilo que eram exibidos por aqui no Brasil entre as décadas de 80 e 90. Protagonista introspectivo, olhar penetrante, mas que de alguma forma ainda preserva pureza e altruísmo em seu interior. E esta última talvez até sirva para justificar a dedicação do grupo ao qual se uniu após tragédia em seu passado de onde traz um irmão mais velho outrora dado como morto, mas que hoje descobrimos fazer um jogo duplo para continuar protegendo o irmão caçula. Tudo isso sob um manto composto por um corte de cabelo estiloso e atitude bad ass. (Itachi Feelings). Isso tudo abrilhantado pela elegância da ambientação do Japão dos anos trinta e animação impecável da P.A Works. Então como diria Jack O estripador, vamos por partes. Primeiro o enredo:
“Em 1930, um grupo de vampiros deixa a China e foge para o Japão. Eles são seguidos por um grupo de caçadores de vampiros chamado “Jaegers”, sob a cobertura de serem funcionários da “V ShippingCompany”. Entre eles está um jovem “Sirius” chamado Yuliy, um lobisomem cujo vilarejo foi destruído por “Vampiros”. No passado, um membro da família real Sirius foi escolhido pelo oráculo para possuir uma misteriosa relíquia sagrada conhecida como “O Arco de Sirius” que, como um presente de Deus, poderia exercer poder sobre todas as coisas. Devido ao seu potencial, o povo do Sirius foi atacado por grupos que buscavam seu poder, então ele foi selado em um local secreto, para nunca mais ser usado novamente. Yuliy e os Jaegers se envolvem em uma batalha mortal com os vampiros, pela posse desta relíquia.”
Bom, caro leitor como pode perceber, lendo a sinopse aí em cima ou caso já tenha assistido a obra,a aldeia dos Lobos do qual nosso protagonista Yuliy Jirov é nativo, foi atacada, saqueada, seu povo passou por genocídio e toda essa barbárie foi promovida por uma raça que se auto proclama “superior”. Nosso herói então ainda criança é acolhido por um dos homens que indiretamente colaborou para o genocídio dos Sírius.
Afastado de toda e qualquer herança cultural e legado (que não o genético) de sua gente,Yuliy cresce caçando estes malfeitores somente em busca de promover contra eles o mesmo tipo de barbárie que os mesmos provocaram ao seu povo.
Apenas nesta introdução é possível traçar um paralelo bem claro sobre colonizadores e qualquer outra nação que tenham algo de seu interesse.
Mas fica ainda mais interessante e mais identificável para um preto em diáspora quando fazemos um recorte apenas do Yuliy. Vamos dar uma olhada no “poder” que ele carrega, no sangue Sirius e no que acontece quando ele é ativado. Nesse contexto o sangue Sirius pode ser visto como uma espécie de Violência natural, vista dentro de uma minoria que sofre preconceito, mesmo não tendo tido a escolha de representar essa violência. Ele é órfão e além de ser menosprezado e reduzido pela raça megalomaníaca que dizimou a sua.
Passa por situações parecida com o companheiro de equipe Philip. Sendo julgado por um ato de violência que sequer foi o mesmo que praticou. E aqui não vai dar para deixar de parafrasear o irmão nILL e dizer a mesma coisa que ele disse á respeito de Naruto em entrevista com o Ronald Rios: “Naruto Yuliy era preto só que não sabia.”
Mas quanto mais Yulily e nós descobrimos sobre o Arco mais claro fica que esta tal “violência natural” está mais relacionada com o meio no qual cresceu e vive do que com sua origem. Isso fica ainda mais evidente quando finalmente Yuliy encontra o arco tem uma conversa com o espírito de seu pai e finalmente libera o selo que mantinha o Arco dos Sírius lacrado. Selo este que seu irmão mais velho foi incapaz de quebrar, tamanha a influência que os colonizadores Vampiros exercem sobre ele. Mikhail embora ainda se reconheça como Preto Sírius, não conseguiu retornar as raízes e ainda se prende aos grilhões da influência que a colonização impôs sobre ele.
Já permeamos tanto esses Vampiros, mas agora vamos falar diretamente sobre a dita “Raça Superior” deste anime. Dando uma olhada em seus discursos megalomaníacos surtados e médicos lunáticos fazendo experimentos genéticos bizarros já devem ter percebido que nada disso é coincidência. Isso! os sanguessugas da vez tem uma ideologia que na minha opinião propositalmente emula o nazismo. E isso fica mais acentuado com a apresentação de Yevgraf na estória!
Ainda falando em Yevgraf, o mesmo protagoniza uma outra parte interessante desta estória. No momento em que Yuliy libera o arco, Yevgraf o rouba, o absorve se proclama detentor do arco e o renomeia para “O Arco dos Vampiros”. Afinal a raça que era detentora por direito de todo aquele “poder” estava a apenas dois espécimes de distância da extinção, quem o iria contradizer? Isso mesmo amiguinhos vocês presenciaram uma demonstração prática em um anime de apropriação cultural:
Aliás, tentativa! Haha. Por quê o que acontece na sequência não deixa a mesma se concretizar. Mas não antes de colocar irmão contra irmão como todo bom colonizador faz:
(Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência)
Mas e o que acontece na sequência? Yuliy consegue deixar seu irmão lúcido novamente e lado a lado vão recuperar os que lhe é de direito. E no início do conflito a filosofia que Yuliy redescobriu após ter contato com sua ancestralidade começa a se manifestar e tomar forma perante os olhos do expectador. Nosso Sírius se deu conta que “Ele é porque nós somos”.
Mas como já era de se esperar o déspota da estória não partilha deste mesmo ponto de vista:
E a resposta que ele tem de Mikael é a mesma que o próprio o condicionou no decorrer de sua vida. Já era tarde demais para Mikail, infelizmente, ele não alcançou sua ancestralidade a tempo e a violência o consumiu:
Mas Yuliy entendeu que o ódio é um fardo pesado demais para se carregar, abraçou sua ancestralidade absorvendo o arco, descobriu Ubuntu e sabe que ele só é porque nós somos. E combinou de não soltar a mão de ninguém.
Uma mensagem final tão impactante quanto necessária no nosso cenário atual enquanto brasileiros:
E só para vocês saberem que OBRIGATÓRIO assistir este anime vou deixa-los com água na boca com a sua abertura! HAHA
Acompanhe Alan Jesus nas redes sociais:
https://www.instagram.com/p/Bo2aGjGBTH6egYz1Z1nGW4GLaojmmWFF-1UwNk0/
- Uma charada pra você: Seria “The Batman” o Homem Morcego que gostaríamos de ver? - 5 de abril de 2022
- Coringa: A risada mais doída que você jamais ouviu - 18 de outubro de 2019
- VINGADORES ULTIMATO: O fim do jogo… Que nunca acaba - 11 de julho de 2019
- Love, Death + Robots – Zima Blue: Ancestralidade e Banzo - 1 de abril de 2019
- Saga Creed: A importância da figura masculina positiva - 26 de março de 2019
Muito massa, obrigado pelo conteúdo! Você ganhou um seguidor, eu!