Atlanta: “Teddy Perkins” é mais assustador do que “Get out!” e ainda não me recuperei disso!

Atlanta Se você é fã de horror não pode deixar de assistir este episódio desta “série de comédia”

Atlanta é uma série estadunidense produzida, roteirizada, dirigida e estrelada por ele… ELE … Donald Glover! Isso ele, também conhecido pela alcunha de Childish Gambino e seu recente e astronômico tapa na cara da sociedade conhecido como “This is America”. Mas enfim hoje o foco é sua série ou um episódio dela para ser mais específico “Teddy Perkins”  episódio 6 da segunda temporada.

Atlanta é uma daquelas séries que quando assisto volta e meia me pego pensando “Mas isso néra série de comédia. Néra?” e este pensamento meus amigos me ocorreu a cada momento deste episódio.  A alusão mais óbvia do episódio faz referência ao filme vencedor do Oscar de Jordan Peele (Get Out!), mais tarde lendo artigos e revirando fóruns gringos descobri que ele também faz alusão em sua estrutura e no seu próprio título a um filme clássico chamado: “O que aconteceu com Baby Jane?”. O resultado? Um dos mais inquietantes episódios de horror que já enfeitou uma série de comédia !

No episódio Darius, (Personagem de Lakeith Stanfield) chega a uma imponente mansão para pegar um piano especial com as teclas coloridas de Teddy Perkins e Benny Hope, personagens fictícios que no passado compartilharam um passado musical e um pai  extremamente rigoroso, diria até abusivo, alusão clara a Michael Jackson e aos Jackson Five . À medida que o episódio avança, o estranho estilo de hospedagem de Teddy começa a incomodar Darius, geralmente imperturbável. Através de uma série de eventos aterrorizantes e distorcidos, Darius é deixado algemado a uma cadeira enquanto um Benny ferido atira em Teddy com um rifle e depois se mata.

Mas vamos aos fatos que fazem desse episódio basicamente uma obra prima do horror:

O personagem Teddy Perkins é o material de pesadelos, e para preservar o poder de seus olhares e maneirismos perturbadores, os créditos só listam Teddy como sendo interpretado por “himself” (“ele mesmo” em tradução livre). Mas corre a boca miúda que Donald Glover é de fato Teddy sob MUITA maquiagem pesada. Mas isso é muito incerto, afinal Teddy colou no Emmy ao lado de Donald Glover:

Donald Glover & Teddy Perkings na 70ª cerimonia do Emmy Awards
Donald Glover & Teddy Perkings na 70ª cerimonia do Emmy Awards

Quem quer que o tenha interpretado, fez um trabalho brilhante!

A aparência não natural de Teddy é a principal razão pela qual ele é tão assustador. Seu rosto extremamente artificial, não permite que ele pareça algo  plenamente vivo.

Outro motivo para tal incômodo, é que não há explicação para por que ele uma vez pareceu ser um homem preto retinto (vide fotos, localizadas na casa, dele de décadas anteriores) mas agora tem pele de aparência quase desbotada. Alusão clara ao falecido Rei do Pop (que discutiremos melhor mas a diante) que tinham a condição da pele conhecida como vitiligo, o episódio duplica a ideia de um homem preto sob a pele clara, quando Darius pede aos seus amigos para Pesquisar no google imagens “Sammy Sosa hat” A reação após ver Sosa choca  e em seguida gera zombaria por parte dos personagens.

Tanto o vencedor do Oscar de Jordan Peele, “Get Out !”, como este episódio seguem o mesmo padrão, com um preto desavisado dirigindo-se a uma grande propriedade para o que deveria ser uma experiência positiva (conhecer o pessoal; pegar um piano). A simpatia inicial que ele encontra acaba sendo uma farsa, e o encontro termina com a violência onde o branco safado se safa em detrimento da vida do preto desavisado.

No meio do episódio, Darius e os telespectadores recebem uma pausa bem-vinda quando ele liga seu amigo
Alfred “Paper Boi” (Personagem de Brian Tyree Henry), que está no drive-thru com seus amigos Tracy (Personagem de Khris Davis) e
Earn (Personagem de Donald Glover). A conversa hilária nos lembra do alívio cômico fornecido pelo personagem de LilRel Howery quando
o protagonista liga para seu personagem em “Get Out”.

Este oásis de normalidade e humor, no entanto, serve apenas para tornar os eventos que Darius está experimentando nas mãos de Teddy, ainda mais assustador. Isso acalma o espectador em um sentimento de complacência que é completamente destruído pela violência no final do episódio.

Naquela que é provavelmente a sequência mais hilariante, bizarra e nauseante, Teddy come um ovo de avestruz gigante, que ele afirma ser também conhecido pelo macabro nome de “caixão de coruja”. Mesmo antes de Darius mostrar sinais de náusea eu já comecei a engasgar enquanto assistia  toda aquela coisa grudenta e aquosa espirrar e os dedos de Teddy cavarem ao redor da parte quebrada do ovo. Esta cena que aparece tão cedo no episódio confirma para os telespectadores que não, este não é um homem normal e esta mansão não é um lar.

 

Ele muda todo o episódio, a partir de então, para o reino do grotesco exagerado, onde tudo é possível e altamente provável de ser bastante perturbador. Inúmeras outras peculiaridades vão se mostrando como Teddy deixando mensagens incomuns para si mesmo no que inicialmente parece um intercomunicador, e Teddy oferecendo a Darius uma garrafa de água – mas voltando com um copo do que ele disse ser uma mistura de diferentes águas engarrafadas. Mais tarde Teddy expõe clichês sobre sacrifícios, que se tornam cada vez mais desconcertantes. “Você tem que quebrar alguns ovos para fazer uma omelete”, diz ele e acrescenta: “Para construir pontes, as pessoas têm que cair.” e “Meu pai costumava dizer grandes coisas vêm de grande dor”.

A interpretação final que tenho após tantas considerações é que este episódio é a forma que Donald Glover tenta interpretar os conflitos internos de Michael Jackson. Sendo o Personagem de Benny o pequeno Michael tão criticado pelo pai que aprendeu a odiar e suprimiu e o Teddy o que Michael Jackson veio a se tornar. Sendo isso uma crítica ao castigo físico e extrema rigidez que aparentemente é comum em famílias pretas usando como justificativa tentar criar os filhos como “cidadãos de bem” em conjuntos habitacionais dos estados tomados por violência e drogas.

No qual Michael parece ser estatística. Em contra-partida temos Darius que representa o público que a princípio pouco se importa à respeito do que aconteceu a Teddy (Michael Jackson) e só quer levar o piano embora (Este piano pode ser entendido como o talento de Michael o público pouco se importa com o que houve com o Michael e está lá pelo espetáculo).

Mas o mesmo personagem também representa resistência preta e auto-consciente e isso é evidenciado quando ao ser fotografado com uma polaroide sua imagem é capturada com os braços em formato de X (referência a Malcolm X). E no seu discurso final onde já está amarrado prestes a ser “sacrificado”: “Nem todas as grandes coisas vêm de grande dor”, diz ele. “Às vezes é amor. Nem tudo é um sacrifício … Seu pai deveria ter pedido desculpas … [mas] não é uma desculpa para repetir a mesma merda de novo e de novo. ”

Polaroid

No final, é violência e não o esclarecimento empretecimento de Darius que impede Teddy . O que poderia ter sido um momento de esperança, faz com que o pessimismo e o fatalismo ganhem o dia. Infelizmente, é uma ocorrência muito comum nos dias de hoje, e o mais bizarro deste episódio é que esta conclusão não é irrealista ou fantástica. Isso é o que o torna ainda mais assustador do que “Get Out!”

FINAL

“Evil” de Stevie Wonder encerra o episódio, e é um questionamento apropriado da humanidade:

Atlanta no Brasil é exibida pelo canal FX e tem a 1ª temporada disponível no Netflix.

Fontes: Indiewire • Amigos do Forum

Sobre Alan Jesus

Gerente de TI, professor de inglês aos finais de semana, pseudo-crítico nas horas vagas e sempre faz valer o provérbio em black english: "Get your money black man". Sempre teimando com céticos se magia não existe para que serviria uma câmera?
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6 Comments Posted

  1. Acabei de ver o episódio e confesso: estou absolutamente aterrorizada! Porém, sua análise preciosa fez com que minha mente acalmasse um pouco! Obrigada pelo esclarecimento! Adorei a parte do piano.

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