Seja Como For, 20 anos depois é Esculpido a Machado

No complexo universo universo de quem nasce na “Barriga da Miséria” muitas vezes damos de cara com a “Paranóia Delirante” e não raramente somos testemunhas oculares de vários “Pedro Bala” dando a “Fuga”.

Nesse breve texto você aí do outro lado vai observar o encontro entre os álbuns “Seja Como For” (Xis, 1999) e “Esculpido a Machado” (Leall, 2021).

Em 1999, Xis trilhando a carreira solo após sua saída do lendário grupo DMN lançou o disco “Seja Como For”. Mais do que o primeiro grande projeto da carreira solo do rapper, Seja Como For é como um filme, de início, meio e fim, no qual as rimas duras e explícitas expõem as batalhas interiores e a subjetividade que constroem o homem preto e periférico no Brasil do século XX. Não só denunciando o horror da miséria e a perversidade da desigualdade social, como as estratégias e ações de quem é atravessado pelas mesmas, Xis mergulha nos aspectos individuais e coletivos que constroem a visão de mundo comum ao contexto da época. Portanto, a clássica obra tem em si a representação do sujeito preto e periférico como um ser longe da passividade e que todo dia através de seus meios busca a justiça, seja como for.

Em 2021, duas décadas depois, o rapper carioca Leall nos apresenta o “Esculpido a Machado”, também seu primeiro álbum solo.
Quando eu ouvi esse álbum não consegui não relacionar ao álbum de Xis. Mais uma vez o Rap Nacional nos dá a oportunidade de vivenciar um projeto incrivelmente bem produzido, articulado e que em si traz histórias de indivíduos que foram moldados e também moldam o universo ao seu redor. A sensibilidade e acertividade das rimas de Leall faz as histórias, reivindicações e dores narradas por ele soarem como um filme em nossas mentes. Filme este que ninguém além dele poderia dirigir.

Seja Como For e Esculpido a Machado são álbuns nos quais os artistas não estão na figura de cronista, observador passivo e distante das histórias narradas. Ao invés disso, eles estão mais do que envolvidos e expostos, contando as mais, loucas, divertidas e trágicas histórias, se colocando também como frutos do universo que proporcionou tais histórias.
Refletir sobre o seu universo e se perceber enquanto uma criação dele é o que une estes álbuns com 21 anos de diferença. Xis no fim do século passado e Leal em 2021 narram os condicionamentos, as injustiças, as relações, os amores e as imagens que constroem todo um povo.

Passado e presente se encontrando, atravessando a barreira temporal e geográfica. E a gente sabe que faz parte de algo quando nos encontramos nas diferenças, Hip Hop é isso.

Escute nas plataformas digitais:

Sobre Júlia Coêlho

Cria da Zona Oeste carioca, graduanda em Pedagogia (UFRJ) e pesquisadora do campo da Arte Educação. Co-fundadora do podcast e mídia independente ” DiaspoCast”. Atua como roteirista, criadora de conteúdo e produtora cultural.
Compartilhe:
comments
About Júlia Coêlho 1 Article
Cria da Zona Oeste carioca, graduanda em Pedagogia (UFRJ) e pesquisadora do campo da Arte Educação. Co-fundadora do podcast e mídia independente ” DiaspoCast”. Atua como roteirista, criadora de conteúdo e produtora cultural.

Leave a Reply

Your email address will not be published.


*