O conhecimento sem dúvidas é um dos pilares do Hip-Hop, sabendo disso três mulheres negras de Bauru — SP, resolveram compartilhar o conhecimento de suas formações em Relações Publicas e trabalhar com artistas pretos e periféricos.
Luana Protazio, Mariana de Moraes e Pryscila Galvão formam a trindade que leva o nome do coletivo RPretas, um coletivo especializado em relações Públicas, também atuando na produção, engajamento e assessoria de imprensa. Outro fato que torna esse coletivo especial é o fato de termos três mulheres negras trabalhando e fortalecendo diversos artistas da cena underground, fazendo um trabalho de base e dando oportunidade aos artistas para apresentar seu trabalho em diversas mídias.
Esse é um trabalho muito importante principalmente, pelo olhar de querer fortalecer seus semelhantes e tentar fazer a diferença em artistas que muitas vezes passam batido entre as mídias. O ponto que falamos que o conhecimento é um dos pilares do Hip-Hop é justamente esse em compartilhar seu conhecimento entre os seus e é muito bonito e interessante ver como a escolhas dessas três mulheres estão mudando diversas vidas. Além disso, elas fazem curadoria em diversos projetos e isso é uma maneira de inserir diversos profissionais negros dentro desse mercado elitista e por muitas vezes racista, e esse trabalho é feito justamente para combater essa premissa. Principalmente nos eventos que participam sempre trazendo essa discussão sobre diversidade e abrindo espaço para novas narrativas.
Mais nada melhor que nós mesmos, falarmos sobre a gente e tivemos a oportunidade trocar uma ideia com elas e perguntamos sobre a atuação do coletivo, como começou e o que elas têm preparado para o futuro:
Como surgiu a ideia de criar um coletivo focado em comunicação e publicidade com
pessoas periféricas?
RPretas: Em 2016 eu, Mari, e a Luana trabalhamos juntas em um evento que acontece todos os anos na cidade de Bauru, a Semana do Hip Hop, que é o maior
evento de Hip Hop 100% gratuito da América Latina. Por sermos as únicas Relações Públicas da equipe, as duas fazíamos brincadeiras com o trocadilho da profissão e acabou que virou uma piada interna entre nós. Em 2018 a Pryscila também participou do evento e, aconteceu, de ficarmos na responsa de organizar uma festa de encerramento da Semana H2, onde as 3 ficamos responsáveis pela organização, nome do evento e por fazer um som, já que todas tiramos uma brisa com isso. Como nós já trabalhávamos muito bem juntas, decidimos que talvez um coletivo focado no movimento desse muito certo, já que a gente não se encaixava em nenhum dos elementos além do conhecimento e essa era uma forma de retribuir à um movimento que nos criou e acolheu por tanto tempo, além de impulsionar a galera que já conhecíamos e também suprir uma necessidade que identificamos, que era a ausência de uma comunicação mais recorrente. Assim, pouco tempo depois começamos a nos reunir e organizar a parte institucional, definir propósitos e como seria a nossa atuação, que a princípio era mais sobre evidenciar nossa própria narrativa como corpos negros e periféricos do que gestão de comunicação focada em carreiras.
Qual é a maior dificuldade que vocês enfrentam diariamente no trabalho de vocês?
RPretas: Acreditamos que uma das maiores dificuldades seja alinhar a falta de investimento financeiro com as estratégias, mas sempre conseguimos alinhar um
ao outro. Fora isso, uma das maiores dificuldades que fazem parte da rotina de comunicadores, assessores, etc, é alinhar os processos estratégicos às expectativas dos artistas, o que é super compreensível porque, em geral, eles colocam tanto deles em suas criações, que acabam criando expectativas para a forma como aquilo será colocado no mundo e na forma como o público terá acesso ao trabalho deles.Mas ainda assim, a falta de recursos financeiros por parte dos artistas independentes e nosso também enquanto equipe, é o maior desafio, porque para um trabalho de comunicação ser feito por completo existe uma dependência para a produção de materiais de qualidade, outros profissionais envolvidos e nós sabemos o valor de cada coisinha, além de ser um dos nossos principais compromissos valorizar o trabalho do outro.
Vocês trabalham com bastante artistas periféricos e como é a abordagem e como é feito a seleção desses artistas?
RPretas: Sim, um dos nossos principais critérios é que os artistas sejam de origem periférica, a fim de dar uma atenção que geralmente esses artistas só recebem quando já tem alguma validação perante a mídia. No início dos nossos trabalhos, nós recebemos diversas mensagens de pessoas perguntando como o nosso trabalho funcionava porque a narrativa que criamos já partia desse ponto, uma vez que toda a nossa trajetória pessoal, acadêmica e profissional já tinha essa visão. Hoje nós criamos um formulário, que chamamos de “triagem para novos artistas”, onde o artista pode colocar informações sobre sua carreira, trabalhos que já desenvolveu, suas expectativas referentes ao nosso trabalho e, a partir disso, iniciamos uma relação para alinharmos nossos objetivos e se tudo casar, começamos um trabalho juntos
Tem algum artista que vocês sonham em trabalhar?? E quais são os projetos futuros do coletivo?
RPretas: Nossa, essa foi a pergunta mais difícil que já nos fizeram kkkkkk. Nós 3 admiramos muitos artistas em comum, mas se é que temos a capacidade de escolher apenas um, podemos dizer que o Emicida. Ele é um cara que nós admiramos muito a trajetória, o caráter, a forma como ele vê a vida e como ele transmite isso também. Ficamos extremamente bobas quando ele aparece de alguma forma em nossas vidas e, se conseguirmos sobreviver à um encontrinho básico, torcemos para ele contratar a gente pra um projeto que seja. Sobre o futuro, hoje tudo acabou ficando muito incerto até porque nós somos um coletivo MUITO da rua. Nós nos criamos na rua, nos fortalecemos na rua, crescemos e construímos o que é esse coletivo hoje, na rua. Também somos pessoas da internet, é aqui que consolidamos e registramos o nosso trabalho, mas sentimos muito a falta de estar nas ruas registrando, organizando, trocando com outras pessoas, porque nossas ideias surgiam em maioria dessa troca. Mas uma coisa é certa, não teve pandemia que brecou os nossos corres. Muito pelo contrário, nos fortalecemos ainda mais e encontramos novas oportunidades, para o futuro buscamos estabilidade e crescimento para os nossos. Um passinho de cada vez e muita estrada pra percorrer
E qual é o maior objetivo do coletivo e onde vocês pretendem chegar?
RPretas: Nosso maior objetivo hoje é consolidar o coletivo como uma empresa real, mostrar que é possível iniciar alguma coisa só nossa, que fale de nós pra nós. A dificuldade existe e nós temos muita sorte por termos ao nosso lado amigos e familiares que apoiam o nosso trabalho e que acreditam na potência do que eles mesmos criaram. Mas mais do que isso, nosso objetivo é realizar o que foi a nossa proposta inicial, impulsionar os artistas independentes, fazer com que eles se enxerguem como verdadeiros profissionais e na seriedade que é ser um artista, independente de onde você vem, mas com a certeza de onde você quer chegar.
Pretendemos chegar onde a gente desejar ir, sempre nos foi dito qual era o nosso lugar, sempre limitaram nossos espaços e, principalmente, ocuparem esse espaço por nós. Acreditamos que o maior incentivo que nós tivemos para criar o RPretas foi não enxergar pessoas como nós cuidando de pessoas como os nossos e, isso é inadmissível. Queremos contar a nossa história da forma como ela é e não da forma que as pessoas criaram através do imaginário coletivo.
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