“Lógos” já está entre nós!!!

O álbum saiu dia 22 de Agosto, mas antes precisamos contar uma pequena história que ocorreu na terça-feira dia 20 onde tivemos a oportunidade de ouvir o álbum em primeira mão numa pequena audição que aconteceu no Bar do Haules, em Jundiaí.

O evento foi repleto de emoção e muita confraternização. Entre os presentes estavam amigos próximos do niLL, membros da Sound Food Gang, KBS Pro Studio e outras personalidades de Jundiaí que transformaram aquela noite fria em um ambiente de felicidade e acolhimento, principalmente quando todos tiveram a oportunidade de ouvir o álbum, que foi seguido de muitas palmas, gritos de felicidade e um discurso emocionante do niLL falando sobre o conceito do álbum e a importância de ter os seus amigos por perto.

Agora vamos para o futuro!!!

“Faz parte de um grande plano eu sair daqui
Nem montanhas, nem oceanos vão nos dividir
Nós somos como fogo, e se o vento apagar
O importante é não deixei de tentar” 🎶🎶

Duas coisas que não posso deixar de citar são: as excelentes produções dos beats feito por Tan Beats, Yung Buda, Crimenow, Nave e O Adotado, que deixaram a viagem do álbum com uma mistura sonora bem fluída e com estética bem interessante, pois niLL soube escolher perfeitamente cada produção e deixou o álbum bem amarrado como deve ser.

E as ilustrações de Wagner Loud, que soube trabalhar muito bem as cores dando a estética e sincronia perfeita que o álbum merece. A forma retratada do niLL como boneco me lembra um pouco o episódio “Zima Blue” da série “Love, Death & Robots”, principalmente pelas cores apresentadas e o fato de Zima ser um artista conceitual e genial tal como o niLL.

“Viagens no tempo são coisas possíveis e eu acredito nisso! Se tem gente que acredita em terra plana, porquê eu não posso acreditar em viagem no tempo?”

Vamos começar falando como Lógos e sua produção parecem não serem dessa época, pois ~~lógos(rs)~~ na primeira faixa temos uma sensação futurista como se estivéssemos embarcando em uma espaçonave ou jogando aquele Top Gear na infância. A primeira faixa já diz muito sobre o conceito do álbum e bastante sobre o amadurecimento do niLL, principalmente nesses dizeres “Nós somos como fogo, e se o vento apagar
O importante é não deixei de tentar“.

Continuamos nossa viagem no tempo para a faixa que considero uma das mais importantes do álbum (se não for a mais importante) que é a “Regras da Loja” que conta com a participação do lírico BK.

É o encontro de dois artistas conceituais e mais importantes da nova geração rap nacional. O mais interessante na faixa é abordar o racismo estrutural latente no nosso país, pois são dois artistas negros retintos passando a mesma ideia na mesma faixa em construções diferentes: niLL em uma simples linha traduz um ocorrido que é comum sofrido por negros no Brasil:

“E aquela quando cê escondeu o relógio
Eu lembro bem daquele dia
Fechou a janela do Focus aquela quando cê escondeu o relógio”

Enquanto BK traduz da mesma maneira outro fato latente: a falta oportunidade para pessoas negras em empregos leva a gente a tomar decisões erradas e desesperadas:

“A caminho do assalto
Noto um mano meio desconfortável
Disse que o dia não tá favorável
Quem foi que trouxe esse novato (Quem trouxe)
E era um primo do piloto
Que tinha perdido o emprego a pouco
Tava pra nascer o filho mais novo
Desviado da igreja, louvor!
Seu desespero me fez refletir
O porquê de eu estar aqui“

Acabamos com barulhos de balas no final da música e por isso já entramos na música “BULLET’S”. Podemos ter várias interpretações dessa música, desde falar sobre como somos bombardeados pela tecnologia e como ela transforma relacionamentos em coisas artificiais, principalmente nessas linhas:

“Aqui faltou uma máscara
Ela queria tá sorrindo na foto”

Essa música me faz lembrar o episódio “Queda Livre” da terceira temporada de “Black Mirror” na qual temos um futuro totalmente dominado pelas redes sociais, onde as pessoas se tornam totalmente artificiais, resultando em relacionamentos totalmente difíceis.

“Como estava escrita a profecia deu número 1
Práticas de um ritual comum”

“Descendentes de Yasuke” é uma faixa bem interessante: ela traz o nome do lendário Samurai Negro e eu consigo ver semelhanças no anime Afro Samurai, onde temos um futuro com um Japão Feudal distópico e aquele que conseguir a bandana simbólica de “Número Um”(o homem mais forte do mundo), irá comandar o mundo, como um “deus”.

Na jornada de Afro ele tem que lutar com diversas pessoas para conseguir o direito de desafiar aquele que tem a bandana de “Número Um”, e eu vejo essa música como o niLL avisando onde quer chegar com seu trabalho, abrindo espaço ao lado de grandes de nomes da música brasileira e tentando fugir do rótulo do “Underground”. Em “Toys“, com a talentosa Callister, temos uma sensação nostálgica porque lembra coisas como “Stranger Things”, más ao mesmo tempo parece que estamos numa viagem interplanetária ou dando um salto no tempo com o DeLorean.

“O dia passa‚ tudo bem
Do meu céu chove também
Fogo aceso se mantém
Transformando-se porém”

E se gente pensa em dar um rolê com DeLorean num domingo à tarde com certeza seria ao som da faixa “Jive” com participação de ManoWill e Melk. Uma verdadeira música de malandro bem quebrada e com dose perfeita pra uma tarde de domingo fazendo aquele churrasco e tirando uma onda. Ou se estamos falando de futuro, imagine o Jovem Kaneki dando um pião com sua gangue em um final de semana.

“Você acha que é loucura nós dois?
Nós dois, nós dois, nós dois”

“Mulher Do Futuro Não Compra Online” é uma faixa que sem dúvidas vai se tornar a favorita de muita gente, e o niLL é um cara que consegue falar sobre relacionamentos para pessoas das mais diversas idades e tribos, justamente pela abordagem simples que fazem todos se identificar. Ela praticamente é embalada com a faixa “Embalagens” que conta a história de um relacionamento que deixa saudades e relacionamentos não significam que sejam sempre amorosos como no filme “A.I inteligência Artificial” onde o Android ganha o boa noite da sua mãe sendo aquele seu último desejo..

“Nosso tempo andou‚ e o que restou?
Só um “Baby, good night for you”

Se estamos falando sobre viagem no tempo, podemos dizer que niLL em suas obras coloca uma clara referência a faixa “Wi-fi” do “Regina”

“E essas cenas previsíveis demais, eu já não quero, pois são todas iguais, todas iguais.”

Outro ponto é a critica a tecnologia que niLL traz desde da época do EP Negraxa e sua relação com a inteligência artificial da Aple “Siri” me faz lembrar o relacionamento de Theodore Twombly (Joaquín Fênix) com a inteligência artificial Sexykitten no filme “Her”.

“Siri, eu não quero recomendações
Essas coisa que ‘cê me mostra muda minhas canções”🎶🎶

niLL é um grande nome do rap nacional, mas desde do lançamento do Regina já era pra ser um dos grandes novos nomes da música brasileira. E quando ele diz “Não me Coloque na sua loja” é o grito dizendo que ele não deve nada a ninguém e que sua arte e originalidade é única. Outro ponto é a afirmação que um artista preto precisa tirar o máximo que pode dessa cena e conseguir seus objetos e sustento como ele mesmo diz: “Primeiro plano é levar tudo deles
Ai, ai, ai, ai”O interlúdio “Servir sempre” serve de entrada para última faixa 12 “Sessão 26” e a narrativa é simples: é como se ele estivesse contando como foi toda a construção do álbum até aqui como se fosse um jogo de RPG. E podemos dizer com muita certeza que o personagem principal subiu de nível!