O ganhador do Oscar de melhor filme tem como sinopse: “Tony Lip, um dos maiores fanfarrões de Nova York, precisa de trabalho após sua discoteca fechar. Ele conhece um pianista que o convida para uma turnê. Enquanto os dois se chocam no início, um vínculo finalmente cresce à medida que eles viajam.” Eles são orientados a seguir “O Guia” — um livro verde que mostra os estabelecimentos seguros, onde os negros seriam bem vindos e respeitados, daí o nome do filme. Assisti ao filme recentemente, depois de protelar muito confesso, e como experiência cinematográfica 100% fictícia pode agradar a maioria dos espectadores, o problema (um dos) é a maldita frase no início do filme que reforça que o filme foi baseado em fatos.
Acontece que Green Book é baseado em histórias que o próprio motorista contou para seu filho, o roteirista Nick Vallelonga, então é de se esperar que o roteiro tome um “partido” na história. E o filme, de fato, toma. Estou ciente que é um filme baseado em fatos e não um documentário, mas em um filme baseado em fatos as “adaptações” deveriam restringir-se aos por menores. O que segundo a família do pianista que chamou o filme de “mar de mentiras” não vêm à ser o caso: https://shadowandact.com/green-book-is-full-of-lies-dr-don-shirleys-family-speaks-out , as polêmicas em torno disto foram tamanhas que Mahershala Ali, que está impecável no papel como de costume inclusive, teve que se desculpar com a família do músico:
https://www.vulture.com/2018/12/mahershala-ali-green-book-dr-don-shirley-family-apology.html
“Se ofendi vocês, sinto muito, minhas sinceras desculpas. Eu fiz o melhor que pude com o material que eu tinha. Não sabia que ele [Don Shirley] tinha parentes tão próximos com quem eu poderia ter consultado para adicionar algumas nuances ao personagem.” Disse o ator.
Mas sinceramente o que mais me incomodou enquanto assistia ao filme foi a impressão de que tinha um homem preto que não tinha lá muito apresso por sua própria cultura (que também foi desmentido pela família do músico), sendo ensinado por um homem branco racista a “como ser negro”. O que parece ter incomodado grande parte da comunidade afro-americana, o mestre Spike Lee incluso :
Aí entra o tal racismo bastante disseminando em Hollywood e que muito se assemelha ao racismo velado tão presente no nosso querido país. Mas porquê? O filme foi classificado como uma obra que personifica o estereótipo do “Magical Negro” — um termo popularizado por Spike Lee para obras onde um homem negro culto educa e move a história de um homem branco, que seria o verdadeiro protagonista da história. Um artigo sobre o estereótipo escrito por Matthew W. Hughey explica que “os poderes desse tipo de personagem são usados para salvar e transformar brancos desgrenhados, incultos, perdidos ou quebrados em pessoas competentes, bem-sucedidas e satisfeitas dentro do contexto do mito americano de redenção e salvação”. Uma interpretação que pode fazer com que este modelo de roteiro e personagem seja a análogo ao nosso racismo velado é: “Embora, de certa perspectiva, o personagem pareça estar mostrando os negros sob uma luz positiva, ele ainda está subordinado aos brancos. Ele também é considerado uma exceção, permitindo que a América branca goste de negros individuais, mas não da cultura negra.”
O artigo de Matthew W. Hughey pode ser lido na íntegra no link à seguir:
- Uma charada pra você: Seria “The Batman” o Homem Morcego que gostaríamos de ver? - 5 de abril de 2022
- Coringa: A risada mais doída que você jamais ouviu - 18 de outubro de 2019
- VINGADORES ULTIMATO: O fim do jogo… Que nunca acaba - 11 de julho de 2019
- Love, Death + Robots – Zima Blue: Ancestralidade e Banzo - 1 de abril de 2019
- Saga Creed: A importância da figura masculina positiva - 26 de março de 2019
Leave a Reply