Dois motoqueiros, um medo. O mesmo de sempre. Medo e tensão ali na hora. Não precisamos de detalhes, não vamos fazer do texto um boletim de ocorrência.
A informação importante é: minha mãe mora no nosso bairro há pelo menos 25 anos, e em periferias há pelo menos 35 anos. E releia o título do texto: primeira vez sendo assaltada.
Entrando na primeira parte do que esse texto quer falar, queria parar com você pra pensar em como alguém que nunca viu uma favela, imagina uma favela. Sempre acho que é fuzil na mão, um morro gigante, boca de fumo pra todo lado e crianças abraçando esgotos.
Deve ter um preconceito pra cada assunto. Quando o assunto é segurança, deve achar que o povo acorda com um corpo na porta todo dia. Na educação, acha que aluno de escola pública não consegue acompanhar uma faculdade pública por falta de base. Economia, pensa que o pessoal das comunidades sempre estão no vermelho e não tem nem televisão em casa.
Uma observação aqui, devia ter uma lei onde a cada vez que alguém fala a palavra comunidade pra se referir a uma favela, perde um osso do corpo.
O ponto até aqui é que enxergam uma favela como uma grande mentira de desgraça exagerada. O que normalmente só fode tudo, tirando oportunidade e diminuindo quem mora nela.
Segunda parte. A cobrança guardinha do rap, pelo rap de mensagem ser uma música falando sobre a Realidade Da Favela, e isso ser sempre algo beirando uma mega desgraça.
Ou mesmo quando mostra qualquer minoria em filme e novela, sempre mostra a luta e o sofrimento.
Essa conformidade em ter a favela como um território de quase guerra e um apoio a isso, onde a exaltação do extremo, da dor, como se fosse uma forma de denúncia, só caga tudo.
A minha questão é essa, falar do sofrimento não é falar de uma causa. Colocar índios sendo mortos por fazendeiros, escravos mortos por chicotes, favelados mortos por policiais. Não muda a realidade, só faz ela ser algo mais comum, mais aceitável como rotina.
A garganta tem que continuar fechando com essas cenas.
É a rotina de alguns lugares, realmente ainda infelizmente é. Mas porra, 35 anos sem nenhum assalto, foi o primeiro. E minha mãe tá bem, tá todo mundo bem, não vemos tiroteios todo dia, não é essa a minha vida. Não posso afirmar isso com certeza, mas não é assim que alguém que mora em uma periferia gosta de ser representado.
Se você que tá lendo, for fazer um filme, um livro, um qualquer coisa representativa, por favor, não reproduza essa tristeza de forma gratuita. Se você é fã de alguma dessas coisas, comece a reparar e cobrar isso, pare de cobrar por mostrar o sofrimento.
Porém: sou fã de Cidade de Deus. Melhor filme brasileiro fácil. Mas ali a dor não é gratuita, é antes de tudo um filme maravilhoso que mostra como histórias foram corrompidas, e segundo um filme com histórias onde você se aproxima de pessoas, não se aproxima apenas de sofrimentos.
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