“Sente este samba quente que é muito legal!” – Assim começa a letra de um dos maiores clássicos do samba-rock, 16 Toneladas, do Noriel Vilela. Quem já foi em um baile de samba-rock ou pelo menos conhece um pouco sobre sambalanço, sabe que essa música é clássica. A música foi lançada no primeiro disco do Noriel Vilela no final da década de 1960, e a letra fala basicamente sobre o ritmo sambalanço e do samba-rock, que era um movimento recente, mas que estava em alta naquela época.
Noriel Vilela – 16 Toneladas
Mais ou menos 20 anos depois do surgimento do sambalanço, estava iniciando-se um novo movimento cultural no Brasil, tratava-se do hip-hop. Alguns dos grandes pioneiros desse movimento em nosso país foi a dupla Thaíde e DJ Hum. No final dos anos 1980 a dupla lançou a música Corpo Fechado, em um álbum misto com outros artistas de rap que estavam surgindo naquela época. Na música, Thaíde se apresenta e fala um pouco (As vezes de forma exagerada) sobre quem ele é. Em certo ponto da música, ele fala: “Pode demorar mas eu sempre pago minhas contas /
Também não sou louco pra dar soco, em faca de ponta / Sempre cobro as minha contas com juros e correção / 16 toneladas eu seguro numa mão” – Além da citação, no final desse verso, entra uma colagem da parte instrumental da música 16 Toneladas.
Thaíde e DJ Hum – Corpo Fechado (Sample aos 4:28):
Thaíde e DJ Hum foram os primeiros a samplear a música 16 Toneladas no rap, porém, não foram os únicos!
Um pouco mais tarde, o clássico grupo Potencial 3, no ano de 1995 lançou a música Mano de Fé, junto com o De Menos Crime, no álbum Você Precisa Esquecer o Passado, Ignorar o Presente, Torcer Para Que o Futuro Seja a Mesma Merda. Nessa música o sample do instrumental de 16 Toneladas pode ser ouvido logo nos primeiros segundos:
Potencial 3 – Mano de Fé
A música 16 Toneladas também aparece de forma bem discreta em uma música do Trilha Sonora do Gueto, no caso, a música é a Um Pião di Vida Loka – daquele clássico clipe que parece que foi feito pelo Kondzilla – e o sample aparece de forma bem discreta nos últimos segundos da música:
Trilha Sonora do Gueto – Um Pião di Vida Loka
Outro grupo de rap que recentemente também sampleou o famoso 16 Toneladas, foi o Ao Cubo na música Mãos ao Alto, que está presente no álbum Fôlego, lançado no ano de 2016. Nessa música o sample foi além de uma pequena colagem, e na verdade, a música inteira foi feita a partir do sample de 16 Toneladas:
Ao Cubo – Mãos ao Alto
16 Toneladas foi tão sampleada que até versões de funk ela ganhou. A primeira a ter mais notoriedade no mundo do funk foi a do Mc B.O lá em 2012, com a música Cai no Mundo:
Mc B.O – Cai no Mundo
E recentemente os Mcs Thiago Brava e Mc Gustta lançaram uma versão praticamente +18 com um sample de 16 Toneladas. A música também se chama 16 Toneladas, saca só:
Até aqui só falamos de outras versões da música, mas onde entra escravidão na história da 16 Toneladas?
A real é que 16 Toneladas é uma versão da música Sixteen Tons.
Sixteen Tons: uma música sobre escravidão
A primeira versão dessa música foi datada em 1946, no álbum Folk Songs of the Hills do cantor Merle Travis. O cantor era filho de um mineiro de carvão, e a música fala justamente sobre a vida de um extrator de minério. O título de “16 toneladas” faz referência ao peso que os mineiros carregavam de carvão por dia, isso tudo de forma manual.
E além do exaustivo trabalho, um dos problemas era que os trabalhadores recebiam o salário não em dinheiro, mas sim em forma de “vales” que só eram válidos nas lojas da própria companhia de extração de minério, fora que, as casas alugadas aos trabalhadores eram também da própria companhia e o valor do aluguel já era automaticamente deduzido do valor do “salário” dos mineiros.
Inclusive em certa parte da letra ele fala “São Pedro, não me chame, porque não posso ir / Eu devo minha alma à loja da companhia”, enfatizando justamente o fato de nunca ganhar dinheiro, mas sim vales que o atrelavam eternamente em uma dívida com a empresa de minério.
A música em si é um clássico do country americano e ganhou diversas versões, nas vozes de diversos artistas, dentre eles B. B. King e Johnny Cash. Pra encerrar, segue então a primeira versão da original Sixteen Tons.
Merle Travis – Sixteen Tons
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