YAS WERNECK
YAS WERNECK

Mulheres no RAP: entrevista com Yas Werneck

25 anos, carioca, professora, estudante de matemática, poetisa e rapper. Esse é o perfil da Yas Werneck, nossa primeira convidada para a primeira entrevista da coluna Street Rhymes Stories, Mulheres no RAP. A Yas é uma das minas que já tive um contato antes, sempre positiva, humilde e aberta pra bater aquele papo cabeça. A entrevista foi bem natural, que acabou se tornando mais uma conversa onde conseguimos enxergar um pouco mais além da parte profissional dessa super mulher.

Seu EP Hexagonal foi lançado o ano passado, que conta com a track “Coméki’, que inclusive está na “Neymar Mixtape”, uma das campanhas que a Nike Football fez para promover um de seus tênis este mês. Neste EP você consegue enxergar a versatilidade da artista em transitar sob os elementos tanto em um som mais calmo pra relaxar em uma pegada mais soul/jazz, quanto em algo mais agitado com funk carioca. Isso que faz da Yas Werneck uma artista completa, e também um dos motivos que me motivou a ter esse papo com ela.

Segue abaixo o papo que tivemos com essa linda:

BPE: Me fala um pouco sobre você, quem é a Yas, e como você iniciou nessa caminhada artística e do rap…

YW: “Comecei cantando na igreja, eu nem sabia que eu cantava, foi minha mãe veio com a ideia que eu ia cantar no casamento de uma prima minha eu falei: “mãe eu nem sei cantar, coméki, né?” e ela falou: “ah vai ensaiar,  vai ficar bonito”, eu não tive muita escolha, e quando eu cantei toda família ficou com cara de “o que?”. Porque ninguém tinha ouvido eu cantar, nem eu mesma, eu acho, e saiu tudo afinadinho, bonito… Depois fiz um teste na igreja pra cantar, passei, e aprendi muito nessa época da igreja sobre teoria musical etc.  E ai fiquei lá um tempo, depois parei de cantar na igreja, mais eu já tinha começado a escrever, eu descobri que eu sempre soube escrever, meio que na zuera, eu e meus irmãos a gente escrevia música quando a gente era pequeno, e cantava para os meus pais, e na escola também… Eu não tinha me ligado que eu tinha esse feeling pra escrita.

Então, em 2010 rolou um evento de um amigo pro TCC dele, e era um evento de rap, ele acabou chamando um cara super babaca que cantava vários bagulho escroto sobre mulher, e eu fiquei p** , e eu pensei: “mano, isso não tá certo, eu vou escrever uma resposta pra isso” Tipo, eu acordei e falei que ia escrever um rap, que eu podia fazer isso, e acabei escrevendo essa resposta. Eu acabei encontrando uma amiga nesse mesmo evento, e comentamos sobre o cara, ela também estava revoltada, e eu descobri por isso que ela também escrevia rap, a gente acabou se juntando e chamamos mais uma amiga e formamos um grupo chamado JEYBI, era uma pegada totalmente diferente, porque tinha uma parada gospel, nós éramos mulheres cantando rap então a galera ficava interessada. A gente rodou as favelas todas aqui da zona oeste do Rio, depois o grupo acabou se desfazendo por divergências de pensamentos. Depois disso fiquei um tempo parada, mas continuei escrevendo uma poesia ou outra, e eu só fui voltar mesmo em 2013.

Ou seja, a música e o rap que me escolheram sabe, não fui eu que fui atrás disso, tem todo um acompanhamento  e uma construção d’eu me descobrir negra, da minha identidade como negra, porque eu cresci em uma cidade cheio de branco e muita racista do interior de São Paulo que tinha um preconceito com a gente por sermos do RJ, e eu via as meninas na escola, e queria ser igual a elas, alisar meu cabelo e tal, e eu falava com a minha mãe e ela não tinha essa pegada empoderada, ela acabava ficando triste junto comigo sabe, e gastava rios de dinheiro pra “amaciar” meu cabelo, porque ela não tinha essa visão que eu tenho hoje. E ai quando a gente voltou pro Rio, meu pai levou vários dvds de hip hop/rap, e foi no hip hop que eu comecei a ver gente negra, com trança, com black, e eu fiquei: “caraca, sou eu, é isso que eu sou” E eu me identifiquei, e eu mergulhei nessa cultura do hip hop.

E o rap veio acompanhado disso tudo, as coisas foram acontecendo sem eu correr muito atrás, os beatmakers vinham e ofereciam os beats pra trabalhar junto, e os beats eram bons, os moleques eram bons e não eram conhecidos por ninguém. E assim que foi rolando, tudo na verdade, os vídeos também, o primeiro clipe que eu fiz foi assim, e tudo foi acontecendo, e eu fui fazendo da melhor maneira e foi rolando… E eu sempre fui fazendo o meu melhor, porque pra mim isso que é importante, não é só cantar.”

“Antes de conhecer o hip hop eu já me preocupava com as minhas letras, eu queria passar algo que preste, que qualquer pessoa podia se identificar. Então, quando eu conheci o hip hop, eu pensei: “eu estou no lugar certo, é isso mesmo”. Pra mim o hip hop é isso, é O Conhecimento, é passar conhecimento, é cultura.”

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BPE: Essa questão, uma das mais importantes, você ser mulher e negra, você acha que isso faz uma diferença dentro do rap? Isso te traz barreiras e diferença de tratamento por isso?

YW: “Cara, eu posso me considerar muito sortuda, abençoada mesmo, porque eu nunca sofri nada diretamente na música, porque eu não sofri nem racismo ou machismo, mas tem aquele lance do indireto né, tipo chamar uma mina que todo mundo sabe que não é boa, e ai a mina é aquela mina padrão, branca, bonitinha, com corpo legal, e ai a mina tá lá no evento, e ainda com pessoas da organização que conhecem meu trabalho… Esses tempos mesmo eu fui em um evento de ouvinte mesmo, e no final um dos organizadores falou: “po cara, era pra tu estar aqui e tal”, e eu fiquei olhando pra cara dele pensando: “mano eu não tava ai porque tu não me chamou, cara ” (risos) Mas tem muito disso… E a gente não pode falar realmente o porque, a gente especula, né? Agora saber o que de fato acontece, a gente não sabe…”

BPE: E saindo dessas questões, como você enxerga sua música e como você definiria o que você faz, e quais suas influências ultimamente?

YW: “Eu considero meu rap positivo. Eu ouço muita parada gringa, e curto muito o neosoul, bastard jazz.. Ouço bastante do gospel gringo, rap e neosoul… Então acabo sendo contagiada por essa vibe de positividade.”

BPE: E eu ouvi os seus últimos trabalhos, vi que “Coméki” tá muito estourado… Como tem sido a recepção do público em geral, você tem visto que a galera está se interessando pelo seu trabalho?

YW: “Público online X público ao vivo. Online os feedbacks são iradíssimos, de todo o Brasil, e agora de outras partes do mundo também, por causa da campanha do Neymar…. Ao vivo, não há público (risos). Exceto aqui na baixada fluminense, que a galera abraça legal mesmo. É o único lugar que eu me animo de fazer show…”

BPE: Você está com algum projeto futuro, você tem alguma música nova pra lançar, o que você tá aprontando?

YW: “Eu to trabalhando no próximo EP já, vai ser  menor, não vai ter nada físico, vai ser tudo online, na verdade tudo que eu vou fazer esse ano inteiro será só online, eu não estou fechando mais show nenhum, e isso é uma outra treta porque decidi parar de fazer show pra não parar de fazer música, porque estava me colocando muito pra baixo, sabe, muito triste, pela falta do feedback que mencionei antes em questão do público ao vivo, então será tudo online, alguns clipes, músicas que só vão pro spotify não vão pro youtube, e esse é o projeto desse ano. E também comecei a gravar o próximo single que vai sair ou nesse final de junho ou no começo de julho.”

BPE: Ouvi falar que você tem mais de 90 composições, é verdade?

YW: “Então, eu escrevo a poesia, e depois que a poesia vira rap… se eu escuto um beat que acho que case, e ai que ela vira música de fato, então eu tenho muitas poesias que eu escrevo, uma ideia que eu escrevo, e ai desenvolvo aquele tema e fica ali, fora as participações que fiz e que eram poesias também.. E no meu bloco aqui tem 90, tem mais na verdade, porque tem algumas que tem só um parágrafo, ou duas frases que as vezes comecei a escrever e acabou ficando pra lá, então passa de 90, mas poemas que podem virar música de boa, tem 90. E ai eu continuo escrevendo, eu prefiro me expressar assim,  uma parada que eu esteja vivendo, por exemplo eu já escrevi várias orações minhas em rima, e era uma parada que eu tava sentindo e eu acabei escrevendo.”

BPE: Aconteceu alguma coisa contigo que te marcou, algo que foi importante e que você possa compartilhar com a gente?

YW: “Cara, acho que o importante foi pra mim o moleque eu vi aquele dia do tcc do meu amigo, ele foi o estopim, saca, depois que eu ouvi a música dele, aquilo não era certo, o cara que eu comentei na primeira pergunta, isso era 2010, já ou ainda, não sei, e nós tínhamos que ouvir essas paradas, sabe, ele tratando a mulher muito como objeto, o rap dele era muito ruim, falando só de mulher como objeto sabe, que foi uma das teclas que bati em outra entrevista, que a mulher não pode só ser público, sabe, não servir só pra bajular o rap, entendeu, mas a mulher também sendo produtora de conteúdo, sendo mais atuante na cena, e eu acho que ele é um que marcou, por ter sido o motivo, eu nunca mais esbarrei com ele, mas se eu ver ele algum dia, eu vou dizer: obrigada, por ter sido babaca (risos).

“A mulher não pode só ser público, sabe, não servir só pra bajular o rap, saca, mas a mulher também sendo produtora de conteúdo”.

E tem outra parada que tá rolando agora, que é algo que tá sendo muito importante, acho que mais que a parada do Neymar, foi algo maneiro e tal mas foi em relação a música, mas esse outro negócio é em relação ao hip hop, em relação a mim… Eu fui convidada pra fazer um programa de intercâmbio cultural nos USA, a ONG Next Level que me chamou, é uma parada pra representar o hip hop do Brasil, eu mulher negra de favela, sabe, estou indo pro USA pra representar o Brasil, eu já sonhei com isso várias vezes, saca, estou muito ansiosa porque é muito responsa,  estou estudando, procurando me informar sobre a cena brasileira… Vou ficar 1 semana em Washington e outra em NY, e já está tudo certo, e vai ser o primeiro intercâmbio deles nesse sentido, então tá todo mundo empolgado com isso, não só eu, e com certeza essa viagem vai ser um marco pra mim.”

BPE: A última pergunta que queria fazer, é onde você quer chegar, e onde você se vê daqui uns 5 anos, eu sei que é uma pergunta bem vasta porque é difícil saber a resposta, mas o que você quer?

YW: “Ah cara, como você falou, eu não sei né, mas o que eu espero é que minha música seja ouvida, saca, e que eu seja mais atuante aqui, o meu sonho mesmo é que eu possa fazer uma parada pelo hip hop aqui no Rio, no subúrbio e nas favelas sabe, lugares que estão esquecidos”.

BPE: Você tem alguma mensagem pra passar pra galera?

YW: “Eu bato muito nessa tecla que o Hip Hop é conhecimento, você passar conhecimento, então pra nova geração. o que eu quero é que que eles se envolvam na cultura, sabe, não que você vá ser o rapper, o dj, o grafitteiro, o b boy, mas se envolva, entendeu, e seja sempre atuante na cena, passe conhecimento, não escreva uma letra só pra ganhar mulher, pra ganhar dinheiro… Po, ganhar dinheiro é maneiro, ganhar mulher também é maneiro, mas procura na tua música passar uma parada que vai somar na vida de alguém, saca, isso eu sempre falo, porque vai ter uma molecadinha olhando pra você…”

Quem estiver interessado no trampo da Yas, só entrar em contato por um desses canais abaixo, espero que vocês tenham curtido nossa primeira entrevista, e é isso, na próxima também teremos mais…

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https://www.instagram.com/werneckyas/

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Sobre Gabriela Sobreira

Gabriela, 25 anos, zona leste de berço, criada no punk ao rap, artesã, feminista, viciada em livros, música e tênis.
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