Texto originalmente publicado no site Rap em Movimento
No segundo álbum solo de Ice Cube, Death Certificate, é possível sentir a fúria do rapper
Para quem curte gangsta rap o álbum Death Certificare de O’Shea Jackson não pode faltar em sua playlist. Carregado de fúria e metáforas o disco é uma verdadeira crítica a situação em que os negros americanos viviam na época e uma resposta ao seu antigo grupo – N.W.A – que duvidaram que Ice iria construir uma carreira solo.
O álbum foi lançado em 29 de outubro de 1991 e estreou em segundo lugar na Billboard e em número 1 na Billboard R&B/Hip-Hop Albums com 105.000 cópias vendidas na primeira semana e acabou vendendo mais de 1,6 milhões de cópias.
Na época da produção do álbum, Cube se associou à Nação do Islã e isso teve um grande impacto na maior parte do conteúdo do álbum. Durante toda duração do disco é possível ouvir mensagens melódicas, mas verdadeiras do falecido ativista Dr. Khalid Abdul Muhammad.
A divisão do Death Certificate é conceitual e ao invés de ter Lado A e Lado B ela fala de lado da morte e lado da vida:
“The Death Side” (faixas 1-11) “uma imagem espelhada de onde estamos hoje”
A ‘death Side’ começa com a faixa “The Funeral” e termina com uma faixa chamada “Death”. Essa primeira metade é repleta de contos de tráfico de drogas, prostituição e violência. Um estilo comum do gangsta rap dos anos 1990.
A segunda parte é intitulada de “Life Side” (12 faixas) “uma visão de onde precisamos ir”.
A Life Side começa com “The Birth” (o nascimento), e fala de ressureição, versos fortes de conscientização. Esse lado continua com o gansgta rap, mas com mensagens mais profundas.
A própria capa do álbum em si já demonstra uma prévia do conteúdo do álbum, um cadáver branco com uma tag “Tio Sam”.
O disco foi produzido por Sir Jinx, , the Boogiemen e Ice Cube. Canções como “Black Korea” e “A Bird In A Hand” abordam questões da vida real na comunidade urbana e que são ignorados por artistas.
A faixa “Black Korea” – Life Side-, prega a rebelião como uma resposta à predominância das mercearias coreanas nos guetos dos Estados Unidos. No fim de seus versos Cube diz que eles nunca irão transformar os guetos americanos em uma ‘Coreia Negra’.
“Cause you can’t turn the ghetto into black Korea”
A faixa foi vista como uma resposta à morte de Latasha Harlins, a garota Afro-Americana de 15 anos que tinha sido morta com um tiro na cabeça por uma proprietária coreana de uma loja em 16 de março de 1991 porque a dona da loja achou que Harlins estava tentando roubar um suco de laranja.
A faixa mais famosa desse álbum é a “No Vaseline” que ataca diretamente os seus antigos companheiros de grupo.
Ao contrário de outros álbuns de Ice Cube, Death Certificate não foi lançado em uma versão censurada. Porém, as faixas “Steady Mobbin’,” “True To The Game,” e “Givin’ Up The Nappy Dug Out,” foram gravadas em versões limpas e lançadas para o rádio.
Polêmicas
A venda de Death Certificate foi proíbida no estado de Oregon. Foi considerada ilegal devido ao seu conteúdo.
Em 1992, como resultado da controvérsia do álbum, o estado do Oregon declarou qualquer exibição da imagem de Ice Cube em lojas de varejo ilegal. Este banimento também incluiu os comerciais da cerveja St. Ides, que Ice Cube apoiava na época.
No Reino Unido, devido às leis contra incitamento racial, foram removidas as faixas Black Korea e No Vaseline.
Na edição de setembro de 2006 da FHM, Ice Cube afirmou em uma entrevista que ele não se arrepende das declarações polêmicas feitas no álbum. Quanto à ofensa causada aos coreanos, ele disse: “Se ainda há um problema, é problema deles.”.
Visão da autora
Quando me perguntam sobre o gangsta rap dos anos 1980/90 eu sempre gosto de referenciar Ice Cube e a N.W.A. Particularmente eu gosto de sentir essa fúria no rap, essa revolta. Afinal eles foram os primeiros a contestar esse “American dream”.
Quando era criança eu tinha uma visão romântica dos EUA, creio que assim como muitas pessoas. Quando você ouve as músicas de Cube e da N.W.A você acaba recebendo um choque de realidade e mostra que esse sonho americano é só para quem é branco.
Sempre indico para quem quer começar a ouvir esse estilo não se prender no conteúdo de violência e nem nos palavrões, mas tentar focar no contexto do álbum inteiro. Ouvir uma faixa solta de um trabalho desses sem entender o conceito do artista é a mesma coisa de abrir um livro em uma página aleatória.
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